“Primeiro pareceu a Gaspar que a estrela era uma palavra, uma palavra de repente dita na muda atenção do céu.
Mas depois o seu olhar habituou-se ao novo brilho e ele viu que era uma estrela, uma nova estrela, semelhante às outras, mas um pouco mais próxima e mais clara e que, muito devagar, deslizava para o Ocidente.
E foi para seguir essa estrela que Gaspar abandonou o seu palácio.”
Sophia de Mello Breyner Andresen
in Contos Exemplares
Após dois anos de interregno devido à pandemia, professores e alunos aguardavam com entusiasmo que a Festa de Natal se consubstanciasse. Uns por ainda reterem na memória a magia de tempos idos, outros, por ouvirem contar que a festa se iniciava com um grande banquete, para o qual se preparavam mil e uma iguarias. Todos comentavam que, no rescaldo desse mimo servido em travessa, se aguardava que a festa, propriamente dita, começasse. Descreviam o frio no estômago de quem ansiava a entrada em palco para declamar a fala aprendida de memória ou o poema declamado em surdina a caminho do metro. Outros , ainda, lembravam a canção que de desafinada, de véspera, se convertia em doce toada e em passos de dança.
Quando o início da tarde de 16 de dezembro se apresentou, professores e alunos descobriram que os relatos de outros natais eram demasiado estreitos, demasiado curtos e pequenos e que neles não cabia a verdadeira Festa de Natal da EPIDH. Havia de facto mil iguarias, havia de facto ansiedade e expetativa e era certo que o mimo também lá estava. Mas estava também um imenso orgulho por pertencer a uma comunidade, a uma família e a ela se oferecer sobre a forma de aletria, de palavra ou de melodia.